Capítulo 3: A Árvore dos Desejos.

           Capítulo 3: A Árvore dos Desejos.

     Depois do ônibus, ainda pegaram o metro para o Parque Iburapuera, estava demorando e apertado dentro do metrô. Gustavo jurou nunca mais andar de metrô depois disso, mas infelizmente é um mal necessário. Uns trinta minutos depois finalmente chegamos a estação Ana Rosa, ainda tinha um pouco para andar já que cada quarteirão parecia ter quilômetros de distância.

     Gustavo olhava para Marcela e notou o quão distante estava naquele momento.

- O que foi?

- Eu não entendo porque você  me trouxe aqui...

- Eu disse que é para onde o príncipe se esconde, não precisa ficar preocupada, não estou te levando para nenhuma boca de fumo!

- Que horror! Nunca pensaria em algo assim, só que justo nesse lugar que eu terminei com meu ex.

- Como assim?! Você nunca me contou sobre ele.

- Tenha certeza, você não irá querer saber.

- Não entendo o motivo.

- É que na verdade eu nunca contei a ninguém que eu tinha um namorado, ele me fez tantas promessas... Só que cada vez ele me tratava mais grosseiramente.

- E nunca considerou seus sentimentos?

- Na verdade ele ficava comigo pelo meu corpo, éramos colegas há 14 anos. Colégio naquela época não é muito diferente do que é hoje.

- Quem “pegar” mais meninas, se tornava o mais popular, não é?

- Não só isso, como ser rico e usar tênis e roupas de marca também .

- As vezes eu queria que essa realidade simplesmente não existisse, é muito difícil encontrar uma pessoa que não pense nisso. – Gustavo depois que o diz, fica com uma expressão de tristeza por causa de Marcela. Ele sabía que o que ela queria mesmo era encontrar alguém que a amasse pelo o que ela é, e não pelo que ela tem, e Gustavo sabia que por mais que ela tentasse esconder, sua frustração era transparente.

- Que tal tomar um sorvete para aproveitar essa tarde?

- Foi pra isso que você me chamou aqui?! – Disse ela com uma cara de espanto.

- Olha... Eu ando preocupado com você ultimamente, você se preocupa demais com as coisas, ou está triste demais com outras, considere isso como uma comemoração pela nossa vitória dos ingressos.

- Isso é completamente desnecessário!

- Você parece minha mãe falando quando eu ligo para ela quando está trabalhando, olha vamos apenas conversar e aproveitar, a vida é mais bela do que você imagina!

    Gustavo a puxou pelos braços levando ela até um sorveteiro que ficava no parque, ambos pediram o mesmo sorvete, ou devo dizer... O mesmo picolé. Picolé de limão era o favorito de ambos. Enquanto se deliciavam do picolé naquela quente tarde de verão, Marcela apenas viu uma árvore e se encantou.

- Porque não sentamos ali?

- Pode ser.

- As vezes Gustavo, você chega a ser tão idiota que me faz feliz sem mesmo eu perceber.

- E você chega a ser tão...

- Tão...?

- Bobona que eu quase não ligo para seus momentos malucos.

- Pirralho! – Diz Marcela dando um pequeno soco na cabeça de Gustavo, mas ele não chegou a doer.

- Ai!

- Para de drama que eu nem dei um soco forte. – Depois desse momento, Marcela dá um longo suspiro, leve e prazeiroso. O cheiro de um parque mesmo sendo no meio de uma cidade grande era bom. A luz do sol refletia na grama e parecia que aquele momento para ela era um sonho, pois não tinha um passeio assim há meses.

- Se pelo menos eu pudesse viver assim para sempre...

- Eu tinha certeza que você se sentiria melhor aqui.

- Você consegue entender certas pessoas tão rápido, sabia?

- Oportunidades é o que não faltam, hahaha.

- É sério! – Marcela também ri com um pedaço de picolé na boca, porém sente uma dor causada pela pressa de engolir o pedaço do picolé.

- Minha cabeça!

- O que foi?!

- Acho que tomei o sorvete muito rápido, congelou meu cérebro instantaneamente.

- Quem mandou ser tão afobada¹?!

- Sei lá, talvez seja porque está muito bom! – Marcela suspira de alívio pela dor ter passado rápido, ela decidiu que tomaria seu sorvete com mais calma para aproveitar o sabor.

- Desde que aquele gringo chegou, eu tenho me sentido estranha sabia?

- Acho que isso foi transparente quando você deixou o prato cair no restaurante, você conseguiu até esquecer do Taylor, que eu pensava que era impossível de acontecer.

- Não é bem isso, é que ele dispertou uma vontade em mim, eu já namorei meninos bonitos antes, mas nenhum deles me deu valor. – O olhar de Marcela era sereno  naquele momento, Gustavo pensou que aquele momento nunca iria chegar, ela sempre foi dura na queda e responsável, com excessão do Taylor, ela nunca se deixou entregar por um homem desde que a conheceu, e percebe-se que faz muitos anos isso.

- Desde que nos conhecemos, você sempre foi durona, eu pensava que os homens tinham medo de você, eu nunca pensei que você desejava isso.

  Marcela ficou quieta por um tempo, um intervalo bem longo com o som do vento balançando os galhos das árvores bem levemente, Gustavo não resolveu tocar mais no assunto porque já era a segunda vez que falava de decepção naquele dia. Sempre tinha um ditado em mente: “Três é demais” para qualquer circunstância, até mesmo para o amor. Alguns minutos depois, a brisa era muito boa para sair dali e os minutos pareciam demorar muito, Gustavo tinha que concordar com Marcela que eles tinham que ficar ali para sempre. Marcela de olhos fechados, solta mais um suspiro e abre os olhos olhando para o céu, inspirada a dizer algo.

- Essa árvore me trouxe uma paz, e uma coragem de ser honesta comigo mesma.

- Isso é bom... – Diz Gustavo com uma expressão confusa.

- Eu desejo que alguém me ame por quem eu sou.

- “I wish to someone to love me for who I am.” – Uma voz bem famíliar fala a mesma coisa que Marcela só que em inglês, e por mais inacreditável que seja, foi exatamente ao mesmo tempo. Marcela arregalou os olhos e olhou para Gustavo, que estava paralizado também naquele momento, parecia que era algo além de uma simples coincidência.

- Neil... – Marcela diz com uma voz fraca. O único sentimento que ela sentia naquele momento, bom, acho que nem ela mesmo sabia descrever o que sentia.

Continua...

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¹ - Apressada